EM DEFESA DO RIO PARNAÍBA. CONTRA A BARRAGEM UHE CANTO DO RIO
EM DEFESA DO RIO PARNAÍBA. CONTRA A BARRAGEM UHE CANTO DO RIO
Rio Parnaíba |
Pe. Alex Lafuente
Todos vocês
souberam do assalto ao Banco do Brasil de Tasso Fragoso nestes dias atrás.
Certamente, se as autoridades competentes e policiais tivessem sabido com
antecedência de dito assalto, teriam tomado medidas oportunas para que o mesmo
não acontecesse. Pois bem, eu estou avisando, outro ASSALTO está para
acontecer, e de consequências bem mais graves e irreversíveis, pois um banco dá
pra reconstruir, o rio Parnaíba não. Trata-se do projeto de implantação da
usina hidroelétrica Canto do Rio que, tenham certeza, vai acabar com o rio
Parnaíba e com boa parte do Bioma da região, sem possibilidade de volta atrás,
se nós não nos organizarmos pra evitar esta catástrofe.
A empresa
responsável pelo projeto, a MinasPCH, fez um folheto explicando, sucintamente,
a implantação de dita usina e anunciando as audiências públicas que serão realizadas nos três municípios
atingidos:
ü
Santa Filomena – PI, dia 12/05/2015 às 18h. no CISEC;
ü
Alto Parnaíba – MA, dia 13/05/2015 às 18h. no CREAP;
ü
Tasso Fragoso – MA, dia 14/05/2015 às 18h. no Ginásio
Municipal de Esportes.
PARTICIPEM!!! Tanto
na audiência como nas intervenções, pois, como anunciado no folheto, “audiência
pública é um exercício de cidadania”. O transporte será gratuito para os
proprietários de terra e povoados da área de influência direta do
empreendimento. No entanto, é necessária a inscrição com antecedência pelo
telefone: 0800 887 0879.
Em dito folheto
(muito “bonitinho” e atraente, por conta) estão falando de uma serie de
benefícios que dita usina vai trazer pra nós. E não estão dizendo nem uma
palavra sequer dos PREJUIZOS, imensos, que essa barragem iria trazer, se for
construída, para o bioma da região, para as pessoas que moram aqui e para o
próprio rio Parnaíba. E, por que não dizer, para o próprio Brasil (eles que se
apresentam como uma empresa 100% brasileira), pois estarão contribuindo para
mais um estágio da destruição de um dos Biomas mais ameaçados neste momento,
que é o Cerrado.
Pe. Alex - Pau Brasil |
E é inútil,
senhores da MinasPCH, que venham me falar em “reposição e enriquecimento florestal”.
Mesmo que haja o recolhimento das sementes das árvores e plantas que serão
atingidas e o consequente plantio e reposição em outras áreas adjacentes
(aonde? Na chapada?). Pergunto, quantas
centenas de anos serão necessários para que essas árvores atinjam o porte das
que eles pretendem destruir.
Falam também em
“resgate da fauna terrestre”. Pura ilusão. Como é que irão resgatar tantos e
tantos animais que, no melhor dos casos, saibam nadar? Seria melhor vocês
falarem logo de “afogamento e destruição massiva” da fauna da região. Vocês
estarão contribuindo para mais um estágio na destruição de um dos Biomas mais
ameaçados atualmente no Brasil, que é o CERRADO, mais ameaçado ainda do que a
floresta amazônica ou do pouco que resta da mata Atlântica.
E das aves,
algumas das quais também em vias de extinção, e cujo ciclo de vida e
reprodutivo depende das margens deste rio? A arara preta, espécie ameaçada de
extinção em nível nacional e mundial, e que os pesquisadores afirmam “não ser
abundante na região”. Tenho avistado grupos de 25-30 destas araras comendo
piaçaba na chapada depois das queimadas. E só por cima da minha casa passam
várias todo dia. Ou o Jacu, também ameaçado de extinção em nível nacional e
mundial, igualmente abundante nas beiradas do rio Parnaíba.
Pra não falar nos
peixes, fonte de renda não só pra as pessoas atingidas diretamente, mas pra
toda a região. Mesmo que não fosse suficiente o veneno que botam todos os anos
no rio as grandes fazendas da região (lembrem-se das centenas de peixes de
grande porte que desceram no ano passado boiando na água. E que não venham me
dizer - outro conto pra boi dormir - que foi por causa da lama do Uruçui
Vermelho, pois a vida toda esse rio botou lama no Parnaíba, mas só começaram
descer peixes mortos depois da implantação das grandes fazendas e dos
agrotóxicos por elas usados). Pretendem, simplesmente, construir um muro de 1.100
de comprimento por 35 de altura, que vai impedir, definitivamente, os peixes
subirem e descerem o rio durante a piracema, pois no projeto não é contemplado
nem elevador de peixes e nem rampa de subida, nem esclusas, escadas ou canais
secundários para eles subirem para desovar. Os peixes que nós comeremos no
futuro... só comprando no supermercado, vindos de açudes ou de outras
regiões. Porque, não se iludam, se já é
difícil o peixe, de maneira especial certas espécies (quem já ouviu falar ultimamente
em piratinga, sardinhão e outros peixes abundantes no passado?), depois da
usina pronta muitas outras espécies irão acabar. Todos sabemos que certas
espécies precisam subir e descer o rio para desovar e se construírem um muro
que impeça isso... adeus peixes... e pescadores. (Então, irão repovoar o rio
com alevinos das espécies ameaçadas? Alevinos de piratinga, de branquinho, de sardinhão?
De onde, e como eles vão fazer isso? Ou então recolher os peixes durante a
piracema e colocá-los por cima da repressa? Todos os anos, para sempre, iriam
fazer a mesma operação?)
Agora, o mais interessante
é quando a MinasPCH fala em “remanejamento, reassentamento e indenização da
população afetada”. Isso já é piada. Aonde vão reassentar, me digam, todo esse
povo que mora e planta nas vazantes do rio Parnaíba e que vive disso? Na
chapada de areia, para plantar lá o tomate, o pimentão e a melancia? Ou talvez...
na serra, tomada toda pelas grandes empresas do agronegócio? Eu vou dizer a
vocês onde irão “reassentar” todo esse povo (mesmo que eles já saibam disso),
vão reassentar...nas pontas de rua dos três municípios atingidos, porque com o
dinheiro que iremos receber como indenização não vai dar para ir mais longe. E
morando em casa de parentes, porque com a indenização não vai dar pra comprar
nem um lote, imaginem pra construir uma casa.
Senhores
atingidos, esta é pra vocês. Não sonhem que irão receber sacos de dinheiro e
vão ficar ricos da noite pra o dia, porque vai acontecer precisamente o
contrário, vão perder o pouco que tem, sem possibilidade de recuperá-lo. Ao
receber a indenização, estipulada por eles, se não concordarem, poderão entrar
na justiça... e talvez, d’aqui a 20 ou 30 anos os seus netos receberão alguma
coisa... improvavelmente. Todos sabem como funciona a justiça nesses casos.
Perguntem aos atingidos pelo Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba o
quanto receberam até agora. E já se passou mais de uma década desde a sua
criação.
Isso em se
tratando de bens materiais. E os bens sentimentais e afetivos por morar num
lugar durante gerações? Como se pode calcular e indenizar isso? Os cemitérios onde
estão sepultados os entes queridos, as lembranças de pais e avôs ligadas ao
lugar? Isso não tem dinheiro que pague.
Falam igualmente
de benefícios econômicos para o município. Pura falácia. Quem arrecada os
impostos não é o município produtor da energia (no caso, Tasso Fragoso, que é onde
fica a usina), mas, os receptores de dita energia, no caso, seguramente alguma
população do centro ou do sul do país, que é onde têm fábricas, indústrias e
cidades com 440 mil habitantes, como diz o folheto, que com toda certeza será
para onde migrarão os 44 MW gerados pela usina. Porque aqui não tem nem
fábricas, nem indústrias e nem população (menos de 1 habitante por km2) e
portanto nem votos para os políticos se elegerem (Cadê as promessas dos
políticos, feitas a cada eleição, de “luz para todos” na nossa região?). E nós
atingidos, além de não recebermos benefício algum, continuaremos a nós iluminar
com lamparina porque o fornecimento de dita energia não depende deles, mas, do
Governo, que não está nem ai conosco. Na questão da arrecadação dos impostos
sobre a energia estou apenas repetindo a afirmação veiculada no programa
“Fantástico” da Rede Globo, emitido no dia 12 de abril, e que convido vocês a
assistirem. Podem baixar no site do Fantástico (click aqui) pois é muito esclarecedor para entender o que estão fazendo na questão das
barragens na região amazônica e o que pretendem fazer aqui.
Quanto aos
“royalties”, só se for no Tasso que, como falava antes, é aonde vai ficar a
usina, ou em Santa Filomena, porque para Alto Parnaíba vai sobrar apenas uma
miséria...e os prejuízos que a dita usina vai gerar.
Falam também de
geração de emprego e aumento da renda. Mais de 300 empregos (dizem) no pico da
construção da usina. Pão para hoje e fome para amanha. E, em todo caso,
benefícios pra Tasso Fragoso, que é a onde ficará o canteiro das obras. Pra não
falar no “efeito-chamada” que a construção de dita usina iria trazer em forma
de pessoal vindo de outros lugares, com o conseguinte aumento da insegurança
pública, pois posso imaginar que parte desse povo vão vir não pra botar as mãos
na massa do cimento, mas noutro tipo de “massa”.
Quanto ao “aumento
do conhecimento científico”, que é uma frase de efeito, muito bonita, me
pergunto (se é que estão se referindo a isso) a quem vão aproveitar, ou quem
vai ler, os 1O tomos de “estudos” do impacto meio ambiental (EIA-RIMA) que a
empresa contratada por eles (SOMA), fez nos poucos meses que passaram por aqui.
Estudo muito bonito, certamente, muito bem documentado, feito sem dúvida para
que as gerações futuras possam consultar em alguma biblioteca da região, pra
saber no futuro, como era por aqui a natureza que eles pretendem destruir hoje.
Árvores petrificadas |
Alguns anos atrás
recebi um folheto de uma ONG espanhola preocupada com a destruição das matas nos
países tropicais, especialmente na África, mas que serve igualmente pra nós.
Eles tinham “inventado” um mini-fogão feito com tetra pak (caixinhas de leite)
que refletia os raios do sol, de tal jeito que era possível ferver água e
cozinhar alimentos nele. Pois bem, imaginem um grande “fogão” de 84 km quadrados,
que não vai usar tetra pak, mas um espelho de água desse tamanho. O quê é que
não vai “cozinhar”? Essa repressa, caso seja feita, vai mudar definitiva e
irreversivelmente o clima da região. E quem vai sofrer com essa mudança seremos
nós e as vindouras gerações. A natureza, quando agredida, sempre costuma
revidar, ou com grandes enchentes ou com secas pertinazes.
Igualmente, a
destruição das matas das beiradas dos afluentes que despejam a sua água no rio vai
contribuir para o assoreamento da região e o conseguinte aumento do despejo de
areia e barro no rio. Todos nós sabemos o que está acontecendo nesse sentido e
como o nível do rio vem baixando, tornando-se mais raso a cada dia, podendo ser
atravessado a pé em muitos lugares.
Pergunto-me
igualmente se o IBAMA vai permitir a construção de uma represa cujo
reservatório (que vai chegar até na Prata, a 4 Km de Alto Parnaíba) vai ficar apenas 50 Km do Parque Nacional das Nascentes
e a 200 das próprias Nascentes. E depois criam problemas pela construção de uma
ponte na cidade, no rio Parnaíba.
Os ambientalistas
estão cada vez mais preocupados com o chamado “efeito estufa” e com a emissão
dos gases que o provocam. A MinasPCH se apresenta como uma empresa que defende
o meio ambiente, pioneira no uso de energias que eles chamam de “renováveis”
(me pergunto se algum dia elas deixem de mover as turbinas...por falta de água),
mas também pioneira no uso da energia eólica. Pois bem, a MinasPCH contribuiria,
bem mais, evitando a destruição da camada de ozônio preservando esses 84 Km
quadrados de verde que eles pretendem destruir, ao invés de instalar quantos
quer que sejam moinhos de vento para gerar essa energia “limpa” (e estou me referindo,
mais uma vez, às informações veiculadas pelo Fantástico. Quero pensar que os
jornalistas responsáveis por essa matéria e por tanto a Rede Globo, tenham
comprovado suficientemente essas informações antes de emiti-las).
Por último, quero
lembrar que a barragem não poderá ser construída se os prefeitos dos municípios
atingidos não derem a sua permissão, assinando o protocolo de implantação. Cabe
então a nós exigirmos dos nossos governantes que isso não aconteça, pois eles
são os nossos representantes, a nossa voz e é para isso que foram eleitos. O
prefeito Itamar Vieira me assegurou que não vai assinar nada, ao menos enquanto
não conversar com o povo atingido (que somos todos nós e não só os que serão
inundados). E eu quero, publicamente, perguntar ao senhor prefeito, valendo
igualmente a pergunta para os prefeitos de Santa Filomena e Tasso fragoso: e se
o povo se manifestar aberta e massivamente contra essa barragem? Será que,
mesmo assim, eles irão assinar? Quero lembrar a eles que uma decisão assim não
só vai afetar a esta geração, mas também às gerações futuras, “pelos séculos
dos séculos”. Porque é isso que vai
acontecer se eles assinarem. Não vai ter volta atrás. E o povo (tenham certeza)
não vai esquecer-se disto nas próximas eleições. Além do que estes prefeitos se
assinarem, irão passar para a história dos municípios não como aqueles que
trouxeram progresso e desenvolvimento aos mesmos, mas, como aqueles que
permitiram que acontecesse o “começo do fim” do rio Parnaíba.
Mais uma vez,
conclamo a toda população: PARTICIPEM E MANIFESTEM-SE! Contra (estou seguro de que é a imensa
maioria) ou a favor (pode ser haja pessoas que também o sejam). É um direito
nosso, mas, também um dever.
Uma maneira
efetiva de participar é nos organizarmos para lutar contra a implantação dessa
usina. E o modo é fazendo parte da associação já criada em Tasso Fragoso, a
“Associação dos Atingidos Pela Barragem Canto do Rio”. AFILIEM-SE!!! Vamos
lutar em conjunto, unidos e organizados, que é como teremos mais força para
conseguir barrar àqueles que querem sobrepor um pretenso “progresso” e
bem-estar futuro à defesa do meio ambiente e do próprio Rio Parnaíba.
|
Por fim, deixo pra vocês refletirem a frase
com a qual terminava a matéria do Fantástico sobre as barragens:
Progresso não é
destruir. Progresso é conservar. E o legado que receberão as gerações futuras
será o que nós façamos hoje para conservar tudo isso ou o que deixemos de fazer
para evitar que o destruam. E o rio Parnaíba, não se esqueçam, é o nosso maior
e melhor PATRIMÔNIO.
alex.lafuente54@hotmail.es
encanto~me por quem se preocupa com o futuro tendo como base o passado. A tradição tem como pano de fundo a vida, a tecnologia tem como pano de fundo o lucro e o poder, parabéns Alex e vomos nos mobilizar ...Pe Egon
ResponderExcluirCarlos,
ResponderExcluirbom dia,
fiquei de te responder um questionamento que você levantou sobre o Iphan e Luz para Todos, durante a audiência pública que aconteceu no dia 12-05,
me passa o seu e-mail particular para eu te responder.
Aguardo
Bernardo Grillo.