Separatismo no Brasil: conheça a República dos Pastos Bons
Hoje passei bem umas duas horas lendo sobre um tema, que
desconhecia por completo. Sabia você que no século XIX existiu o projeto da
criação de um país no interior do Brasil, abrangendo áreas do Maranhão, de
Tocantins (a época parte da província de Goyaz), Pará e Piauí? Pois é, eu
também desconhecia. É a chamada REPÚBLICA DOS PASTOS BONS.
Vamos entender o que estava por trás de mais essa parte do
território brasileiro que poderia ter se tornado um país independente, mas
acabou não se tornando.
O movimento se dá nos primeiros anos do Império, com as
agitações em torno da ideia tendo surgido após a Confederação do Equador (1824)
e teve o seu momento máximo em 1835, com a Declaração de Grajaú, onde sob os
valores iluministas de igualdade, democracia e republicanismo, uma pátria foi
fundada.
Uma parcela significativa das elites políticas e econômicas
daquelas regiões apoiavam a ideia. Pastos Bons era um importante centro
irradiador do sul do Maranhão (a tradição aponta que essa cidade foi fundada pelo
Paulista Domingos Jorge Velho) e estava muito distante de São Luís. Suas
comunicações estavam mais estabelecidas com Oeiras, então capital do Piauí, do
que com a capital de sua própria província.
Contudo, a adesão à ideia não foi forte o suficiente para
atrair a atenção de nenhuma nação (pelo que sabemos não houve comunicação vindo
da parte de qualquer outro país existente na época, no sentido de se reconhecer
a independência de Pastos Bons) e de nenhum grupo politico do império no Rio de
Janeiro. Foi uma questão de abrangência essencialmente regional, mas muito
demonstrativa de como o governo brasileiro (e antes dele o governo português)
já há muito tempo tem dificuldades em lidar com regiões que não são
privilegiadas pelos grandes centros de poder político (a maneira mais simples
de se obter reconhecimento político é, justamente, por meio da emancipação de
um território, seja transformando-o em distrito, município, estado ou país).
Passados cinco anos, em 1840, dentro do contexto da Balaida
(outra revolta separatista), Grajaú voltou a ser um foco secessionista, desta
vez provocando mais ira do governo imperial brasileiro. A Guarda Nacional foi
acionada para sufocar o levante rebelde. Foi um verdadeiro massacre, comando
por Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, que mandou incendiar
prisioneiros, dada a falta de celas para abrigar aqueles que haviam sido
capturados.
Após este último episódio, as conversas para uma república
dos Pastos Bons foi sendo colocada de lado. É normal, após uma ação tão cruel
da parte da tirania dos Bragança, que a população passasse a temer mais o
inimigo e se retraísse. Durante todo o império, projetos foram apresentados
(dois, pelo Visconde de Taunay, a época senador) não mais para separar a região
do território do Império, mas para convertê-la em província.
Conforme as elites das regiões envolvidas foram se acomodando
às novas circunstâncias do quadro político o tema foi perdendo força, sem,
contudo, deixar de ter os seus desdobramentos até os nossos dias. Em 2011, no
Pará foi realizado um plebiscito oficial pelo TSE e TRE com o objetivo de se
dividir aquele estado em três: Pará, Tapajós e Carajás. Outros plebiscitos
sobre a divisão do Piauí e do Maranhão também já foram aventados. Porém, de
entre as áreas pertencentes àquela que seria a República dos Pastos Bons, a que
mais obteve sucesso e progresso administrativo foi justamente o Tocantins (que
já havia tido um movimento emancipacionista, em 1821, bem no fim do Reino
Unido) mas que só virou estado, finalmente, em 1989.
Toda essa história contada é praticamente desconhecida. Eu
mesmo não conhecia ela. Não interessa às elites políticas do Brasil deixar que
os exemplos históricos de busca por liberdade e soberania sejam conhecidos.
Eles temem perder, conforme um novo pensamento venha a ganhar força, os seus
privilégios e suas mamatas. Temem perder o poder. Se a República dos Pastos
Bons não teve sucesso político, hoje, em partes daquelas mesmas regiões nós
temos notícias de pessoas que defendem a secessão em todos os estados. A causa
secessionista permanece viva. Talvez mais do que na época em que o governo
brasileiro colocou fogo nos cabanos de Grajaú.
FONTES:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_de_Pastos_Bons
http://www.academiamaranhense.org.br/blog/roda-viva-16/
http://www.pppg.ufma.br/cadernosdepesqui…/…/files/artigo%204
Por Carlos Biah
Jornalista 001575/MA
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