Faltando cinco dias para o fim da oligarquia, Governador Eleito diz que o poder dos Sarney não volta mais, afirma Flávio Dino em entrevista ao Estadão
Para Flávio Dino, clã do senador manterá outras estruturas, mas não com a mesma intensidade vista em cinco décadas
DIEGO EMIR
de São Luís para O Estado de S. Paulo
Poder dos Sarney não volta mais, diz Flávio Dino em
entrevista ao Estadão
Responsável pela segunda derrota política do grupo liderado
pelo senador José Sarney (PMDB) em 50 anos de história no Maranhão, o ex-juiz
federal Flávio Dino (PC do B), eleito governador após vencer o peemedebista
Lobão Filho, acredita que o Estado nunca mais voltará a ser governado por um
clã como o do ex-presidente da República. "O grupo Sarney continuará a
existir, mas jamais terá o poder que ostentou durante meio século."
Para a previsão de Dino se tornar realidade, os primeiros
passos serão dados a partir do dia 1.º, quando ele tomar posse e assumir o
comando do Palácio dos Leões. A solenidade será a parte mais visível da ruptura
política experimentada pelo Estado. O governador eleito - o primeiro do PC do B
no País - será empossado pelo presidente da Assembleia Legislativa, o deputado
Arnaldo Melo (PMDB), que assumiu o governo após a renúncia de Roseana Sarney
(PMDB). A filha do senador deixou o posto no início do mês, alegando problemas
de saúde, e não transmitirá o cargo ao adversário político.
Após impor a derrota ao grupo Sarney, como o senhor espera
que os membros do clã irão se comportar? Acredita que enfrentará perseguição
por parte dos setores da mídia regional e da bancada maranhense no Congresso?
O poder instituído pelo grupo Sarney em diferentes setores
não acaba com a derrota no pleito para o Governo do Estado. Muitas estruturas
permanecem ligadas a ele. Mas nós vencemos as eleições mesmo contra todo esse
poderio. Sobre a bancada maranhense no Congresso, o que o povo espera de cada
um deles (parlamentares), independentemente do seu partido, é que eles defendam
os interesses do Maranhão. Quando fui deputado federal, eu me comportei assim,
mesmo sendo oposição ao governo Roseana (Sarney), e eu espero da nossa próxima
representação essa mesma maturidade.
O Maranhão é um dos Estados com piores indicadores sociais do
País. Em sua campanha eleitoral, o senhor disse que o grupo que lhe antecedeu
passou 50 anos no poder e não fez nada. Qual a transformação que o senhor
propõe para o Maranhão nos próximos quatro anos?
O objetivo principal do nosso governo é fazer um Maranhão com
mais justiça, mais igualdade. Isso significa melhorar esses indicadores
sociais. Isso não se faz da noite para o dia, sabemos disso, mas, se o governo
não priorizar o assunto, essa situação não vai mudar. Vamos fazer isso com
honestidade na aplicação do dinheiro público, políticas de gestão inovadoras, e
com um novo modelo de desenvolvimento que vai integrar grandes e pequenos.
O PT não lhe apoiou formalmente na eleição, mas uma ala
esteve presente na campanha e membros do partido vão fazer parte do seu
governo. Como será o seu diálogo com a legenda?
Nosso diálogo permanece aberto para que o PT do Maranhão faça
o caminho de volta. Estamos abertos para dialogar com todas as correntes
políticas que queiram nos ajudar. Tenho feito reuniões com muitos segmentos
sociais. Temos um programa moderno e transformador que foi aprovado nas urnas
por 65% (na verdade, 63,5%) dos maranhenses. Essa é a nossa referência
essencial.
O poder exercido pelos Sarney e, agora, a derrota desse grupo
político despertaram atenção nacional para o Maranhão. Como é viver essa
expectativa em torno de seu futuro governo?
Um ciclo de poder que dura tanto tempo e que no Brasil só tem
longevidade comparada ao reinado de d. Pedro II chama a atenção do País por si
só. Além disso, esse ciclo político resultou em indicadores sociais muito
baixos, que são rotineiramente noticiados, até internacionalmente. Isso gerou
uma forte corrente de simpatia à nossa luta para virar essa página. Essa
energia cívica nos animou durante toda a caminhada. Estamos bem conscientes da
expectativa e da responsabilidade que isso implica. Faremos um governo bom, honrado
e com muitas realizações.
O senhor acredita que a família Sarney foi derrotada
definitivamente?
Nunca mais o nosso Estado será governado por coronéis. Tenho
essa convicção e essa alegria. O grupo Sarney continuará a existir, mas jamais
terá o poder que ostentou durante meio século. Agora é hora de construir um
futuro melhor para a nossa população. Vamos fazer muitos investimentos
públicos. E quero garantir aos investidores privados: quem acreditar nesse novo
momento do Maranhão não vai se arrepender. Teremos um ambiente institucional
que vai impulsionar nosso desenvolvimento.
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