UHE Canto do Rio. E agora... O quê?
Pe. Alex Lafuente
Isso se mostra claramente, no folheto
que foi distribuído massivamente nos três municípios (feito, sem dúvida
nenhuma, por autênticos especialistas em comunicação) e que foi o único meio
informativo com o qual entrou em contato a maior parte da população, pra
conhecer o que estava vindo aí com a construção da usina. Em dito folheto, em
papel cuchê, em cores atraentes e com vários desenhos (apto até para os que não
sabem ler ou são semi-alfabetizados) se fala única e exclusivamente em
BENEFÍCIOS que a dita usina vai trazer para nós e em nenhum momento se diz a
palavra IMPACTO, tão repetida nas audiências públicas. Aliás, neste folheto
eles falam apenas em “POSSÍVEIS ALTERAÇOES” que a usina irá provocar. Nem
certas elas são, apenas “possíveis”, numa clara manipulação informativa, se
comparada aos prejuízos admitidos (diante de apenas 150 pessoas) nas audiências
públicas.
A minha propriedade, só como exemplo,
vai ficar completamente em baixo d’água, tudo o que tenho plantado e feito,
casa incluída, ao longo destes 20 anos. Pés de laranja, lima, tangerina, limão,
manga, caju, jabuticaba, abacate, atimóia, jaca, coco, carambola, e tantos e
tantos outros... que deverão ser cortados ...numa “possível alteração” da minha
propriedade e da minha casa. Assim como a das outras 22 famílias que serão expulsas
das próprias terras, para não falar das que terão as suas terras inundadas
parcialmente. Pessoas que vivem e plantam há décadas na beira do rio, uma vida
toda, herança de pais e avós, muitos dos quais sepultados nesses lugares,
expulsos “por decreto” das suas casas, das suas terras e chamam isso, com o
maior cinismo, de “possíveis alterações”. Isso é fazer pouco do povo, é rir na
nossa cara, como se toda uma vida pudesse ser indenizada ou transplantada como
se faz com um pé de planta qualquer. E
as matas ciliares e de galeria da beira do rio que também serão destruídas? Mesmo
que façam um reflorestamento das mesmas, como prometido... Quantas décadas não
deverão passar para que essas árvores atinjam o porte das que agora vão cortar
e destruir? Mais uma simples, pequena e sem importância, “possível alteração”.
E depois ficam ofendidos por uma frase e com o maior cinismo do mundo pedem
para serem respeitados.
Aliás, nas audiências públicas eles
falam em programas e planos (um mundo) que são para paliar, na medida do
possível, os impactos que a usina vai provocar. Mas no folheto não, pois ao não
falar dos impactos esses planos e programas parecem ser outros benefícios
acrescentados aos anteriores, algo assim como um Papai Noel fora de época,
vindo de Belo Horizonte – MG, que estivesse trazendo presentes para nós.
Nos desenhos do folheto tem, por
exemplo, uma lâmpada, com o qual o povo em geral logo pensa que eles vão trazer
energia. E não é bem assim, pois nos encontros e nas audiências, (volto a
repetir, diante de um reduzido número de pessoas) eles falam aberta e
claramente que só vão produzir energia e que a distribuição ou o fato de que
ela chegue até nós não depende deles. Energia que irá reforçar, dizem, a carga
das linhas de transmissão nas quais será
interligada. Uma gota de água no imenso reservatório do país.
Igualmente estão criando uma falsa
expectativa com o número de empregos a serem criados. Eles falam de 310
empregos no “pico da obra”, mas não estão especificando o quanto vai durar esse
“pico da obra”. Uma semana? Um mês?...Porque, sem dúvida nenhuma, não vão
começar a obra com 310 empregos e nem vão terminar com o mesmo tanto.
Quando eu reclamei por estas coisas
durante a Audiência Pública de Alto Parnaíba (aliás, usando uma linguagem
coloquial imprópria, certamente, para ser usada numa audiência pública – não se
“puxam as orelhas” de um engenheiro chefe e nem de uma empresa em público – e
pelo qual pedi desculpas publicamente durante a audiência e depois dela
pessoalmente) me foi respondido que o folheto era apenas um convite para
participar da audiência. E não é bem assim, pois o folheto traz informações
claras e precisas da empresa, da usina, dos benefícios e dos planos a serem
implementados. E isso tudo é informação, sim. Informação manipulada. Teria sido
bom se o senhor engenheiro tivesse se sentido tão ofendido pela frase em
questão como pela falta de ética informativa do folheto. E quando se pede respeito... tem que saber
respeitar primeiro, e eles mostraram pouco respeito pelo povo manipulando-o
desse jeito.
Sem dúvida nenhuma uma empresa como a
Minas PCH, moderna e eficiente, contrata os melhores, e em diversas ocasiões
também elogiei isso e parabenizei pela sua competência e preparação. Porém, uma
coisa faltou: quem aceita os elogios deve saber também aceitar as críticas.
Nisso se mostra, talvez, o autêntico profissionalismo. E em nenhum momento eles
aceitaram qualquer crítica, por mínima que ela fosse, sempre tentando
justificar por todos os meios qualquer pergunta que fosse feita. Ninguém é
perfeito, e reconhecer as falhas, sejam quais forem, é um bom exercício para
crescer na vida.
E agora... O quê?
Apenas esperar, pois essa usina vai
sair sim. O IBAMA vai respeitar os prazos que marca a lei e vai dar a licença
prévia para a usina ser construída. O que eu espero é que o mesmo IBAMA se
mostre tão diligente com a fiscalização dos programas e planos a serem
implementados como se mostra com as leis de licenciamento de uma obra. Eu
chamei a atenção do mesmo quando perguntei durante a audiência se teria a
capacidade de fazer isso, pois todo ano estavam sendo requeridos para
fiscalizar a pesca predatória no rio Parnaíba e respondiam que não tinham meios
e nem pessoal pra fazê-lo. Pergunto-me então se irão ter meios e pessoal para
fiscalizar, ao longo de 30 anos, esses 30 planos e programas propostos no
Relatório de Impacto Ambiental ou irão ser, mais uma vez, planos e programas
feitos para ficarem apenas no papel....molhado pela represa.
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