VAQUEIRO, UMA APOSTA SOLIDÁRIA

VAQUEIRO, UMA APOSTA SOLIDÁRIA

Caros amigos, bom dia!. Ontem recebi a incumbência de escrever um texto para ser postado por ocasião da Missa do Vaqueiro. Pedido feito por Carlos Biah. Pedido aceito! 
Seu Raimundo, morador do povoado Macacos

São quase quatro horas da manha, e o dia já tateia a cidade. Nesse momento um vaqueiro se aproxima e inaugura a madrugada numa síntese inesperada de ruptura e integração. O casco de seu cavalo, ainda molhados pelo orvalho, fatiava o cetim adormecido nas ruas esburacadas, parecendo deslizar pela brecha estreita do tempo que antecede essa manhã.
-Bom dia seu moço!
Bom dia. Quem o conduz é o vaqueiro “Raimundo Ribeiro”, que traz consigo seu cão inseparável: Xavante, o vira lata que vive no sertão, confere diariamente seu compromisso com o dono. Uma camaradagem contida e silenciosa que dispensa complementos. Quando o Vaqueiro apeia, revela com esmero suas perneiras, o guarda-peito, o gibão. Seu chapéu adornado com trancelim de bordas de cor que foi lavrada com esmero por hábeis mãos de um mestre. Um maço de cordas de couro adunco dobrada em vários círculos passa-lhe do pescoço sobre o braço esquerdo. É sua faixa de honra. É o famoso laço com que prende a rês rebelde à porteira do curral ou necessitada de algum cuidado no campo. A espingarda, também lhe vinha a tiracolo, e também se via na cintura uma larga faca de cabo de chifre, metida na bainha. A arma de fogo e a lâmina de aço são companheiras inseparáveis do vaqueiro. São seus instrumentos de trabalho, de combate e de vingança. Durante o dia, percorrendo os campos, com a pólvora ele derruba a caça. À noite fere a onça, atocaia o inimigo poderoso. Com o ferro prepara os artefatos próprios de sua profissão, ou deslinda em duelos terríveis as contendas do momento. Estas ainda são algumas da natureza especiais destes homens que habitam os ermos mais longínquos desse nosso sertão. Extremados no ódio, implacáveis no Amor, fieis a gratidão, quase sempre morrem onde nasce e se prendem. Ali aprendem os primeiros aboios, depois engarrançham sonhos. Não recuam diante do perigo, desafiam a vida e a sorte numa rotina malvada da submissão. Ao meio dia, quando finalmente para descansar, tiras os arreios... A barriga ronca, calos latejam. Um punhado de farinha e um gole na cabaça são suficientes... Depois se despe do chapéu que inventa travesseiros... Um breve cochilo e o pensamento voam para a amada. É hora de medir saudades, levantar, juntar a boiada e voltar pra casa.
Quando finalmente partem, o vaqueiro, o cavalo, a boiada, o cão e o sertão, formam um corpo único de uma aposta solidária no dia, na caça, no amor e na vida. Todos juntos irradiam essa cumplicidade que afronta as leis poderosas  da fragmentação contemporânea. Juntos compõe uma cena referencial de forte coesão simbólica em que elementos como tempo, território e pertencimento se entrelaçam  e rodeiam o sentido de uma palavra cada vez mais esquiva, e que nos dias atuais já soa quase como um estorvo: IDENTIDADE.
                                                                            Antonio Lustosa Mascarenhas 03/09/2016


                                              Reconhecimento da profissão


A profissão de vaqueiro foi reconhecida no dia 24 de setembro de 2013 no Congresso Nacional, , por meio de um projeto de lei elaborado pelo ex-deputado Edigar Mão Branca e Edson Duarte. Na ocasião, vaqueiros de todo o País foram ao Congresso para acompanhar a votação.

A lei Nº 12.870, de 15 de outubro de 2013, reconhece a atividade de vaqueiro como profissão sobre as seguintes atribuições: “realizar tratos culturais em forrageiras, pastos e outras plantações para ração animal; alimentar os animais sob seus cuidados; realizar ordenha; cuidar da saúde dos animais sob sua responsabilidade; auxiliar nos cuidados necessários

                                  HISTÓRIA DA MISSA DO VAQUEIRO

A missa do Vaqueiro tem sua origem no assassinato do vaqueiro RAIMUNDO JACÓ, morto traiçoeiramente nas caatingas do Sítio Lages no município de Serrita/PE.

Segundo a história Raimundo Jacó era um excelente vaqueiro. Quando aboiava seu canto atraia o gado para perto de si, assim como os apóstolos corriam ao encontro de Jesus. Era capaz de adivinhar onde dormia e comia cada cabeça de gado sob sua responsabilidade.

Raimundo e Miguel Lopes eram contratados de uma mesma fazenda, sendo Raimundo responsável pela quarda do rebanho do patrão e Miguel pelo rebanho da patroa. Entre eles ja havia uma rixa muito forte, pois Miguel sentia INVEJA das qualidades do seu companheiro.

No dia 08 de julho do ano de 1954, ambos partiram à procura de uma rês de estimado valor e famosa por suas astúcias animais. A rês pertencia a patroa e fora alcançada por Raimundo Jacó. Miguel chegou logo atraz de Jacó e se deparou com ele calmamente fumando o seu cigarro sentado perto do açude do sítio Lajes – Serrita – PE, a Rês amarrada e o seu fiel companheiro cachorro ao seu lado. vendo isso Miguel ficou bastante irritado e com muita inveja, Pegou uma pedra de regular tamanho e bateu fortemente na cabeça de Jacó. Naquele dia o sertão todo estremeceu de tristeza e de dor. Raimundo foi sepultado no local onde fora assassinado. Um fato que não poderia deixar de ser citado é que o seu amigo fiel cachorro acompanhou todo o trajeto do enterro. depois ficou ali até morrer de sede e de fome guardando o túmulo do seu amigo Raimundo Jacó. Quanto a Miguel Lopes Houve processo mas foi arquivado por falta de provas. Miguel dizendo-se inocente e nunca foi esclarecido o acidente.


Hoje, em todo o sertão, cresce o mito em torno do seu nome, consagrado como protótipo do vaqueiro, símbolo de dedicação e coragem.

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